quarta-feira, 30 de julho de 2008

Luta q.b.


Não adianta perder mais do que o tempo necessário com ruim moribundo político em trânsito para defunto político. Defunto político é aquele que não perde a condição de membro da classe, mas que, pela política seguida, provoca tal oposição no povo que as suas condições de retorno da prateleira onde hiberna, são muito frágeis - não falo de casos mais graves como, por exemplo, corrupção. Por mais que dispare contra todos os que propõem novo rumo, o seu destino está traçado.

Hoje, 30-7-2008, quando escrevo, noto que o Partido Socialista governou Portugal em quase dez dos últimos treze anos (desde o primeiro Governo Guterres, que tomou posse em 28-10-1995), com trinta e sete meses de intervalo do PSD (de 6-2-2002 a 12-3-2005 - vinte e nove meses de Durão Barroso; e sete meses e três semanas de Santana Lopes). Por vigilância presidencial e, como diz um amigo meu, outros cálculos, nesses três anos e um mês, poucos quadros de ministérios e administrações substituíram. Tirando o aperto financeiro - que Sócrates levaria ao garrote -, alguma legislação útil, bastante dela reposta com a volta dos já velhos senhores, e certas políticas sectoriais, pouco se alterou. Portanto, descontando essa interrupção-pê-ésse-dê-o-programa-pê-ésse-segue-dentro-de-momentos, vivemos na miséria socialista desde o Outono de 2005: da política de caridade e esbanjamento de Guterres, saltámos para a política cruel e avarenta do seu delfim Sócrates.

Os números, mesmo apesar da sua maquilhagem oficial, não enganam: divergência com o Produto Interno Bruto per capita da União Europeia; estagnação do crescimento; maior desequilíbrio da balança comercial e da balança de pagamentos; redução do investimento directo estrangeiro; intensificação do abandono de multinacionais, nomeadamente dos seus escritórios de representação em Portugal, que foram deslocalizados para Espanha; subida de impostos; subida do desemprego; inflação real; depreciação brutal das empresas cotadas em bolsa; perda de poder de compra dos consumidores; endividamento e insolvência das famílias; falências e encerramento de empresas; emigração de quadros, chefias intermédias, operários especializados e trabalhadores não qualificados; aumento do número de famílias com assistência social no rendimento mínimo, frequência de cantinas de solidariedade e fornecimento de alimentos e roupas; e a volta previsível do défice...

Sócrates não avançou para uma escalada de confronto com Cavaco Silva que lhe fornecesse o pretexto para uma re-eleição antecipada. Cavaco temia esse desfecho, mas Sócrates não tem, como se percebe - e mais tarde se descobrirá -, apenas o objectivo de governar. Então, Sócrates vai cumprindo os seus objectivos e, até ao prazo de Outubro de 2009, esperando melhores dias. Que não vêm. Ainda não chegámos ao fundo do vale de lágrimas da crise estrutural portuguesa, à qual a crise internacional se juntou.

Portanto, na hora de votar, o português que ainda comparece puxa a caneta do bolso vazio e despedirá, com prazer, o tirano Sócrates que deixou os cofres públicos na mesma e as famílias mais pobres, após onze anos de governo socialista. É um fim inelutável - e funesto para os seus apoiantes, pois, de socialista, passou a ultra-capitalista - que nem sequer a descida temporária da febre do petróleo alivia. Por isso, na receita que o povo precisa: luta q.b.. E a verdade! Nada se constrói na mentira.

Porque cremos, e mantemos a fé no futuro de Portugal, continuamos, além da luta necessária, a preparar o tempo pós-Sócrates com a apresentação de propostas concretas de transformação do País.